O uso de contêineres marítimos na construção civil ganha adeptos no Brasil.
Os projetos mostram que reciclar as grandes caixas metálicas descartadas pelo segmento de transporte pode garantir conforto, beleza, rapidez e sustentabilidade à obra. “O tamanho das unidades é adequado à construção modular.
Além disso, o transporte é fácil e permite levar casas prontas para serem montadas em qualquer lugar do país”, afirma Danilo Corbas, arquiteto idealizador do projeto Casa Container.
Segundo ele, os módulos habitáveis podem ser utilizados em casas, quartos de hotéis, prédios de escritórios, estabelecimentos comerciais, alojamentos e qualquer outra construção. A grande vantagem está na estrutura. Robustos e feitos de aço tratado contra corrosão, os contêineres podem ser empilhados, exigindo menor investimento em fundação e colunas. Adaptam-se facilmente aos terrenos, permitem construção por etapas e oferecem mobilidade. “Para mudar de endereço, basta desmontar a casa e colocá-la em cima do caminhão.”
A obra também é mais rápida e limpa, já que o terreno receberá tudo pronto de fábrica. “É como montar peças de lego.” A estética do contêiner também evita o gasto com materiais para acabamento externo. “Assumindo as características e o visual das caixas é possível reduzir em até 35% os custos da obra”, explica Corbas. Para quem não gosta da aparência do caixote, a arquitetura modular permite a instalação de fachada, combinando o cenário externo com a estrutura robusta do contêiner. O custo do metro quadrado construído pode variar entre R$ 800 e R$ 1,6 mil, sem contar o terreno. “No final, o preço pode ficar bem perto da alvenaria. Mas os ganhos ambientais são enormes.”
O apelo da reciclagem seduz o segmento de construção que encara o desafio de reduzir impactos ambientais. De acordo com Francisco Cardoso, professor do departamento de engenharia civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), essa indústria responde por 40% dos impactos ambientais do planeta. “É importante estudar métodos construtivos que aproveitem material disponível e ajudem a mitigar os efeitos. Mas os projetos têm de garantir saldo positivo”, afirma. Cético, ele acredita que a construção metálica modular sirva para uso provisório. “As construções definitivas requerem muita tecnologia e gente preparada”, alerta.
De fato, os contêineres exigem projetos com isolamento térmico e acústico nas paredes e estudo do terreno para desenhar janelas que permitam circulação cruzada de ar. As medidas são necessárias para reduzir o uso de ar-condicionado ou aquecimento, oferecendo também eficiência energética. Morar em uma caixa metálica sem tratamento é o mesmo que habitar um forno no verão e uma geladeira no inverno. Para garantir o mesmo desempenho de uma casa de alvenaria, é preciso respeitar o microclima local e prever soluções conjugadas como a instalação de ecotelhados e outros atributos para casas sustentáveis. “Dependendo das exigências do projeto, o custo empata com a alvenaria ou pode ser até maior”, alerta a arquiteta Juliana Fuzetto. Outra dificuldade é encontrar contêineres para transformação no Brasil e mão de obra adequada para prepará-los.
Na Holanda, onde adoção de contêineres habitáveis é uma solução consolidada, é possível encontrar hotéis e residências com unidades recicladas. Quinten de Gooijer, executivo da Tempohousing, afirma já há um mercado internacional para a venda de unidades habitacionais construídas a partir de contêineres marítimos. É possível ter acordo com empresas que trabalham nos portos ou adquirir módulos prontos na China.
Com esse método pré-fabricado, a Tempohousing construiu a maior vila de contêineres do planeta em Amsterdã. A solução resolveu a carência da capital holandesa por dormitórios para estudantes, criando um alojamento com mil contêineres, “Todos os apartamentos foram montados com unidades recicladas e são dimensionados para atender às demandas dos estudantes”, afirma. Outra vantagem está na mobilidade. A vila pode ser desmontada e instalada em outro local.
De Gooijer vê o Brasil como um mercado atraente pelo aumento da renda da população e o crescimento do mercado imobiliário. A Tempohousing pretende abrir escritório por aqui e oferecer casas, hotéis e escritórios. Experiência internacional em países quentes não falta à companhia holandesa, que montou um hotel de alto padrão na Nigéria. Para o Brasil, a aposta está na oferta de casas com 60 m2, prontas para morar. “No mercado internacional, essas unidades custam em média US$ 30 mil”, afirma.
Mas vender contêineres habitáveis no Brasil ainda é um negócio complicado. O preconceito vem sendo quebrado aos poucos. O empresário gaúcho André Krai transformou contêineres descartados em butiques de moda e montou a franquia Loja Container Ecology Store. “Queria ter um varejo que fugisse dos altos custos dos shoppings e, ao mesmo tempo, não obrigasse o dono da loja a construir no terreno”, explica.
O uso das caixas contribuiu para a criação de unidades de venda modulares, de construção rápida e com todos os atributos ecológicos. O preço também é acessível. A loja pronta, com todos os cursos, estudos de mercado e taxas fica entre R$ 79 mil e R$ 250 mil.
Fonte: Valor Econômico